quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Esperança Renovada - Continuação

Tempo depois, do outro lado do ônibus, uma garota. Sentada em uma cadeira alta, pediu licença para também se apresentar e olhou diretamente para o rapaz que, agora todos já sabiam, chamava-se Abraão. Ela disse que Deus a pediu para ler um versículo naquele momento e, com a Bíblia em suas mãos, começou a pronunciar algum livro do Novo Testamento.

Aquilo foi demais para Regina. Ela sorria e pensava se aquilo estava acontecendo mesmo, pois não se lembrava de já ter vivido algo parecido. Ela sempre ouvia histórias de assalto em ônibus e, bem sabia, que algum dia podia acontecer quando ela estivesse indo ou voltando para o local de trabalho. Ouvia também histórias de bêbados loucos, casais que se desentendiam, cobradores que brigavam com passageiros, mas... aquilo? As pessoas falando de Deus, falando naturalmente de Deus? Nem parecia verdade.

Por um instante, teve medo que pensassem que aquele sorriso que lhe escapava fosse por ironia, mas não conseguia conter. Era uma mistura de surpresa e felicidade. Regina ia poder contar uma história boa quando chegasse em casa e, melhor, após um dia tão cansativo, teve a oportunidade de viver um momento de concentração espiritual por alguns minutos.

Era como se ela não estivesse em um ônibus, mas em uma Igreja. E lembrou-se do ditado que casava com aquela sensação: “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé”. Perfeito!

Assim, ela permaneceu em silêncio por toda a viagem. Antes de o rapaz descer, ele fez uma oração e pediu que todos o acompanhassem. Regina apenas fechou os olhos. A viagem seguiu ainda por alguns minutos, mas já sem a discussão religiosa que fizera parte até aquele momento.

Então, ainda refletindo sobre o que acabara de presenciar, Regina se perguntou se ela teria reagido conforme a vontade de Deus. Será que Ele queria que ela também levantasse a mão, lesse algum capítulo da Bíblia, desse algum testemunho ou simplesmente olhasse nos olhos daquelas pessoas e agradecesse por aqueles instantes de reflexão?

Um sentimento de culpa lhe invadiu. E logo se foi. Ela percebeu que, na verdade, Deus só queria lhe mostrar que ainda existem pessoas que não perderam a fé, que o mundo ainda pode encontrar um caminho melhor para seguir e, o mais importante, que ainda existe gente estranha, que cruza o caminho das pessoas, apenas para fazer o bem.

Naquele dia, Regina voltou para casa como todos os outros dias. Mas com a esperança de um mundo melhor renovada. Como nunca imaginara possível.

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