terça-feira, 23 de março de 2010

Mais uma poesia que fez parte da minha história... da minha vida...

Neste momento penso em você,
e então quisera me transformar em vento.
E se assim fosse,
chegaria agora como brisa fresca
e tocaria leve sua janela.
E se você escuta e me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem te tocar.
Vou roçar nos seus cabelos,
soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia,
te embalar no meu carinho.
Mas eu não sou vento,
agora sou só pensamento
e estou pensando em você.
E se abrir sua janela,
eu estou chegando aí, agora...
Neste momento, em pensamento...
No vento!

Roberto Shinyashiki

quarta-feira, 17 de março de 2010

Descobri porque não consigo engordar...




Pratique o amor integral

uma vez por dia

desde a aurora matinal

até a hora em que o mocho espia.


Não perca um minuto só

neste regime sensacional.

Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó,

que seja pó de amor integral.



Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 16 de março de 2010

O valor e a vida

Ele soube da morte da mãe no dia seguinte do fatídico acontecimento. Os olhos cansados denunciavam a longa noite de trabalho e, agora, demonstravam claro espanto com a multidão que cercava a sua casa. Sentiu o cheiro de más notícias.

Desceu do carro, cumprimentou os poucos que estavam no caminho até a garagem, parou um instante na porta e entrou direto, parando ao lado do leito eterno de sua genitora. Ela tinha o olhar sereno, como se dormisse. Ele a olhava quieto, da cabeça aos pés, e tocando suavemente suas mãos, parou no tempo. A família, os amigos, vizinhos e curiosos calaram-se diante da cena. Nada se ouvia, nada se movimentava. Alguém esperava uma palavra, outros esperavam um surto. Mas nada acontecia.

Segundos que pareceram horas. Finalmente sua esposa o pegou pelas mãos e o levou para uma cadeira de palha próxima ao livro sagrado das peças ornamentais do velório. A filha mais velha lhe trouxe água. Os sussurros começaram por toda a sala e ele não olhava para ninguém, continuava ali, inerte.

A casa, assim como seus cinco moradores, era simples, com poucos velhos móveis, pintura desgastada, nenhum acabamento. A sentinela à rainha acontecia na garagem, onde não havia nem iluminação elétrica, apenas um chão de terra molhada e um telhado de madeira. Entre os mais de cinqüenta presentes, no máximo dez pessoas eram conhecidas da família. Destas dez, contava-se a família e os vizinhos que ela tinha na casa onde vivia sozinha, em um bairro próximo. Ele, o filho, era o único herdeiro da casa de um quarto que a velha senhora morou nos últimos quarenta anos. Juntando casa e móveis, não se conseguia um valor acima de R$ 2.000,00.

Alguns minutos se passaram. Enquanto todos já se voltavam para outras atividades, ele levantou afoito olhando para os lados, como se procurasse alguém. Andou pela garagem, foi até a rua, rodeou o terraço, passou pela sala. No final da cozinha, dois primos papeavam e tomavam um café. Ele seguiu nessa direção, os chamou para mais perto e, antes que algum deles pudesse lhe dizer qualquer palavra de conforto, ele desfez os olhos de cansaço e lhes pediu:

- A minha mãe não pode ser enterrada assim, não é justo, ela vale muito! Vamos, me ajudem a abrir a boca dela, são dois dentes de ouro do lado superior esquerdo.

...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Nenhuma relação é em vão

Uma conversa com uma amiga hoje me fez pensar sobre relacionamentos. Ah, relacionamentos, como eles são difíceis. Lidar com pessoas talvez seja a missão mais difícil do ser humano. Somos todos diferentes, com características próprias e pensamentos únicos. E vivemos rodeados, 24h, por pessoas. Momentos bons, maravilhosos, inesquecíveis... ou momentos desastrosos e irreparáveis.

E quando o assunto é relação homem x mulher? Aí que tudo piora. Paixão fulminante, desejo louco e planos para o futuro. Mas, desilusões acontecem. Faz parte da vida. Quantas vezes não encontramos alguém que parece ser especial e pensamos: agora tudo vai ser diferente. Nos entregamos e deixamos a vida acontecer, seguimos caminhos desconhecidos sem medo, sem olhar para trás, apenas confiando que não estamos mais sozinhos e, agora, uma outra metade nos completa para a construção de uma felicidade plena.

Mas, antes que o caminho acabe, percebemos que existe um obstáculo no meio da estrada, troncos de árvores atrapalham a caminhada e nós dois não somos capazes de ultrapassar. Algumas vezes o tronco é até possível de carregar, ainda que com certa dificuldade, para a beira da pista. Outras vezes, pesado demais para sair do lugar.

Aí tudo fica nublado. A decisão é de seguimos separados, de volta pela mesma estrada, lá para o início, de onde começamos. Sentimentos confusos nos dizem apenas para desistir. “Chega de sofrer”, “Eu não nasci pra isso”, “Cansei, vou ficar sozinha”. Passa um, dois, três meses e a história se repete. Lá estamos nós de novo, retomando o caminho de um novo relacionamento, com o sorriso mais largo, confiança redobrada e esperança no futuro, como se nada tivesse acontecido.

Porém, desta vez sentimos que estamos mais preparados, afinal já conhecemos a estrada e os obstáculos; já sabemos da força que vamos precisar mais a frente e da sabedoria que deveremos ter para desviar dos possíveis entraves. Nesse momento, tudo fica claro. Olhar para o passado é sorrir de si mesmo, é descobrir que tudo que foi vivido até então nos transformou em uma fortaleza, um diamante lapidado e preparado para a nova relação que a vida nos apresenta. Desta vez poderemos ir mais longe, construir pontes ou fazer um novo caminho.

E é por isso que nenhum relacionamento deve deixar de ser vivido por medo da desilusão, já que tudo faz parte do que eu chamo de evolução sentimental. Relacionamentos, sejam eles de sucesso ou não, nos levam cada vez mais para o caminho que todos, um dia, querem trafegar: o caminho da felicidade no amor.