terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma outra linguagem

Passava das 21h. Saí da biblioteca e caminhei poucos minutos até chegar a um ponto de ônibus vazio e escuro. Olhei para os lados para me certificar que o local estava realmente vazio e me encolhi em um banco, torto e frio, da Universidade de Brasília. Menos de dez minutos depois, três jovens se aproximam e sentam ao meu lado. Estavam bastante animados com a conversa. Eu, preocupada com a demora do ônibus, a princípio não dei atenção. Em seguida percebi que encontrara uma ocupação, um momento de análise e pura diversão.

Sotaques claramente diferentes. Os três conversavam sobre tudo que os jovens conversam: viagens, namoros, baladas. Comecei a prestar atenção quando percebi que o termo “véi” aparecia três vezes a cada cinco palavras. Palavras ditas pela metade, de forma chiada e arrastada, dificultavam o meu entendimento apesar deles estarem praticamente grudados em mim.

Naquele momento lembrei minha terra distante, minha querida São Luís, já conhecida antes como “Atenas Brasileira” e tema de debate entre os estudiosos da língua, apontada por alguns como a cidade que melhor fala o português. Claro que, com o processo natural do desenvolvimento, essa característica vai se perdendo por causa da mistura de povos. Mas, na capital maranhense, até hoje é possível compreender uma conversa entre jovens. Talvez, por isso, o meu estranhamento ao ouvir aquele “debate juvenil”.

Voltemos à conversa. Concentrei-me nas palavras ditas em volume médio para tentar entender a mensagem final. Mais como um passatempo útil e “educativo”. Às vezes me perdia no contexto da fala porque ficava tentando entender a frase anterior. Porém, os três conseguiam se entender perfeitamente. E eu me sentia jogada no centro de Tókio.

E a conversa seguia com “tá de boa”, “tá ligado”, “carai”, “mina”, jogados em meio a outros vocábulos encolhidos. Isso quando não saia algo do tipo “os finalista”. Coisa de jovem? Aí aproveitei a oportunidade para aprender significados que poderiam me servir depois, já que sou uma pessoa que, no momento, preciso pedir informações constantemente. Descobri, por exemplo, que “bicho” é “sinônimo” de ônibus e “arroizou” é alguém que não “pegou” ninguém na festa. Bom, mas tal qual é normal em situações como esta, nem tudo me foi compreendido. Incluo neste item o trecho 'Essa parada é “paia”'... bom “véi”, essa, até agora eu não consegui descobrir.

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